Vamos simplificar, minha gente

Ano passado levei horas nas Lojas Americanas escolhendo o que dar para o meu sobrinho no Natal. As opções eram infindáveis: brinquedo que fala, que mexe, que acende, que tira a raiz quadrada de 692.... Juro que nem lembro qual deles levei e com certeza o brinquedo perdeu a graça pra ele rapidamente. Pois não é que outro dia improvisei um brinquedo com o qual o pecorrucho se esbaldou: um galho de árvore com um barbante enrolado em volta que, ao ser atirado numa corrente de água, vai desenrolando, desenrolando, desenrolando. No final a gente puxa o barbante e traz o pedaço de pau de volta. Essa era a brincadeira. Simplesinha, simplesinha.

Não pude deixar de lembrar no quanto as bonecas de pano eram um xodó para as meninas que hoje já são mães ou até avós. Elas resistiam ao tempo, ficavam gastas, encardidas, mas dormiam com a gente na cama e ficavam anos impregnadas com o  nosso cheirinho de criança, tornando-se, por isso, uma das nossas lembranças mais doces na fase adulta.

Aliás, infância me lembra comida de vó, feita na hora e aromatizada com temperos naturais. Hoje tempero vem tudo triturado dentro de saquinho no supermercado. Por isso fico feliz de ver que o movimento das hortas domésticas resgata esta coisa gostosa que é plantar o próprio tempero. Basta um peitoril de janela ou um vaso em cima de uma cômoda e a gente passa a ter manjericão, tomilho e coentro o ano inteiro. Sem falar que  mexer na terra, nem que seja só em um palmo dela (rs), te dá uma sensação danada de boa.

Hoje tudo é muito complexo e tem muitas variáveis.

Vejamos: você ter só uma graduação não conta mais; hoje se o sujeito não tem pelo menos uma pós, ele não vai a lugar nenhum (assistam aos ótimos vídeos do Ken Robinson, postados esta semana aqui no blog, onde ele fala sobre a falta de criatividade na educação).

Outro exemplo: tente agendar um encontro com mais de dois amigos para o mesmo dia, à mesma hora. Duvido que consiga. Pelo menos de primeira (e de segunda e terceira). Trata-se de uma tarefa para poucos: “Não podia ser outro dia? Neste eu marquei de tirar uma verruga do meu pé”, “Que dia mesmo? Eu adoraria, mas...será que não dá pra ser no ano que vem?”.

Saudades do tempo em que se ligava pra pessoa e falava: “Ó...vou passar aí hoje, tá?”