17 dezembro, 2010

Não quero mais reclamar


Reclamar é um vício. Às vezes penso que deveriam criar o RA (Reclamantes Anônimos), onde em 12 passos o sujeito veria o mundo como ele realmente é: nem tão ruim quanto ele faz questão de pintar nem tão “Polyana” quanto muitos gostariam.

Agora mesmo os parlamentares acabam de dar mais munição para os reclamantes profissionais, principalmente os que se especializaram em falar mal dos políticos, pois tão logo terminaram as eleições - quando a classe política faz de tudo para se parecer com a Chapeuzinho Vermelho ao invés de com o Lobo Mau - os congressistas se deram um aumento salarial “de responsa”: 62%, valor equivalente ao teto do funcionalismo federal. Isto significa R$ 1,9 bilhão saindo dos cofres públicos e não voltando em termos de benefício para a população. E como se isso não bastasse, a medida terá um efeito cascata, já que o aumento deve ser transmitido também para prefeitos e governadores.

O que mais me chama atenção quando acontece um episódio destes não é exatamente o fato em si, mas o paradoxo entre a avalanche de reclamações da população X a sua total apatia para fazer alguma coisa. Como disse um cara na Internet, “me chamem quando #fogonocongresso for pra valer no lugar de um #mimimi no Twitter”. Em tempo: mimimi é um termo utilizado na rede como sinônimo de reclamação e “#fogonocongresso” foi um tópico criado no Twitter para falar do aumento dos parlamentares e, claro, um dos Trend Topics (tópicos mais populares) desta semana.

Vou tentar ilustrar o que eu chamo de paradoxo com duas situações recentes.

Há algumas semanas as emissoras exibiram uma reportagem que mostrava a fila enorme para comprar ingresso para o jogo do Fluminense. Teve gente que ficou 36 horas na fila. (Fico me perguntando como é que a pessoa dispõe de 36 horas para ficar numa fila. Ela trabalha? Em caso afirmativo, como fica todo este tempo fora? Se não trabalha, o dinheiro para o ingresso deve vir de alguém que paga as suas contas). Algo que me impressionou foi ver a disposição e o empenho das pessoas para conseguir algo que elas julgam valer muito a pena: o ingresso para um jogo de futebol. Tudo bem que é do Fluminense (rs), mas não deixa de ser um jogo de futebol. Algo que pode dar muito prazer, mas que não vai mudar, de fato, a vida de ninguém.

   


Por outro lado, decisões políticas afetam diretamente as nossas vidas. Uma outra reportagem  mostrou, há cerca de dois meses, a mobilização dos franceses contra a decisão do presidente Sarkozy de aumentar a idade mínima para a aposentadoria. Milhares de pessoas fizeram protestos e greve por toda a França. Tudo bem que houve convocação por parte dos sindicatos, mas as pessoas respondem a estas convocações pois sabem que os motivos que originam os protestos vão mudar o seu dia a dia de maneira significativa.



Aqui a gente reclama do aumento salarial que os parlamentares votaram em causa própria (*), mas nem de longe pensamos em ir às ruas protestar ou nos mobilizarmos de alguma forma contra esta medida. Devemos pensar que isso é coisa de europeu e que aqui isso não adianta.

Seguindo esta linha de raciocínio, muitas vezes os consumidores brasileiros desistem de fazer  sua reclamação sobre um determinado produto ou serviço pois intuem que vão se aborrecer e gastar um tempão, sendo que existe grande probabilidade de não conseguirem resolver o problema. Mas vejam só: é graças aos que reclamam que hoje temos um PROCON, temos uma geladeira que se estiver com defeito a fábrica troca (antes o jeito era ficar com a geladeira defeituosa), temos um Expressinho, que é o serviço da Telemar que procura diminuir o número de processos do Juizado Especial de Pequenas Causas e temos...o Juizado Especial de Pequenas Causas!

Reclamar não é ruim...quando feito de forma produtiva, é claro. Mas ficar só de mimimi não resolve. Portanto é inútil ficar enumerando ad eternum os defeitos de maridos ou esposas ou viver reclamando da falta de tempo pelo excesso de trabalho. É fácil achar alguém de quem reclamar, pois reclamar, assim como o futebol, é um esporte nacional.

Eu não me excluo. Afinal, nasci brasileira e incorporei este (péssimo) hábito. Só que tento, a cada ano, reclamar menos. Mas tenho de confessar que há uma categoria que desafia as minhas boas intenções: o do reclamante profissional. Deste eu não consigo parar de falar mal (rs).

Antes de deixar vocês com um vídeo bacana, que ilustra muito bem o quanto não temos razão para reclamar tanto, queria agradecer a audiência que deram ao INFORMAÇÃO DE PRIMEIRA durante todo o ano, mesmo aqueles que só o leem vez ou outra.

Queria avisar, também, que o blog entra de férias e só deve voltar na segunda quinzena de janeiro, pois, sabem como é, sou filha de Deus (ou de Alá, Jeová, Buda, sei lá.) e fim de ano é aquilo: pouca programação cultural pela cidade (tirando as dos festejos de revéillon) que mereça ser divulgada e minha capacidade de escrever já chegando ao limite máximo (rs).

Portanto, queridos leitores, desejo a todos vocês uma ótima virada de ano, esperando vê-los novamente em 2011 e, se tudo der certo, com o blog todo repaginado e de carinha nova. ;o)

Fiquem bem e até 2011!


 
(*) Veja aqui a lista dos parlamentares que votaram a favor e contra o aumento salarial.



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