O carioca e sua alma de mascate

É impressão minha ou vejo cada vez mais pessoas interessadas em ter um negócio próprio ao invés de um emprego?

São dois times, melhor dizendo: os que procuram ter um negócio próprio e os que procuram passar num concurso.

A primeira opção dá muito trabalho, é insegura e traz milhares de dúvidas – onde procurar a atividade certa, como conseguir capital, etc, etc, etc. A segunda requer muito, muito estudo para concorrer com os 999 mil candidatos que  querem a mesma coisa: estabilidade.

Os cariocas que trabalham na área de serviços, principal vertente econômica do município, muitas vezes se vêem comendo o pão que o diabo amassou para chegar com os seus suados caraminguás até o final do mês.

Os salários no Rio são de chorar. Sei disso porque cada vez que um paulista vem pra cá, sou obrigada a ouvir a frase “O Rio paga muito mal”.

O turismo, uma indústria milionária em qualquer país do primeiro mundo, aqui é tão mal explorada que dá pena. E isso numa cidade considerada uma das mais belas do planeta.

Aí o pobre do carioca faz o quê? Se joga da Ponte Rio-Niterói? Óbvio que não. Porque carioca que é carioca não desiste nunca! (rsss). Que o digam os camelôs, que estão aí para provar o que eu digo. (Já ouviu falar do David, o camelô da foto ao lado, que hoje dá palestra em empresa? Conheça a sua história).

Aliás, que repartição pública não tem aquele funcionário que, além de trabalhar as suas 6 horinhas diárias – quando o cargo é alto 4 horas por dia tá de bom tamanho (rss) – também não vende algum tipo de mercadoria no trabalho para faturar um extra? Ou organiza festa infantil no final de semana? Ou filma casamentos?

O carioca tem alma de mascate, não adianta. Ter dois ou três empregos é comum.

Por isso, vejo que, com a dificuldade de conseguir um emprego que pague TODAS as contas no final do mês, as pessoas estão começando a pensar seriamente em abandonar o emprego inseguro para embarcar na viagem do negócio próprio. Com a tarimba de quem joga nas nove, insegurança por insegurança, que pelo menos seja a própria e não a alheia.

Mas tem gente para quem a palavra insegurança não entra no dicionário de jeito nenhum. Se o emprego é inseguro, então o jeito é tentar um concurso. 

 

Quer ver um cara que se dá super bem? O dono do cursinho para concurso. Acho até que deveria ter uma pós-graduação para esta área: Pós em Administração de Cursos para Concursos. Se bobear, faturam mais do que um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus.

Apesar de difíceis, os concursos públicos têm acontecido em maior quantidade e aqueles cujos salários não são tão altos, pelo que ouço falar, parecem mais fáceis de passar.

Esta opção tem sido preferida por quem já passou dos 40 ou tá chegando lá, pois é sabido que as alternativas de emprego para quem regula esta idade são mais escassas.

Fato é que tirando as áreas de Tecnologia da Informação, que “bombam”, a área administrativa e a de vendas (que nunca sofre com a recessão), todas as outras parecem oferecer cada vez menos empregos que paguem as contas dos cariocas.

E como serviço extra é o que não falta, tenho de deixar registrada aqui um dos últimos de que tomei conhecimento: o sujeito fica na blitz da Lei Seca, longe dos guardas, perguntando aos motoristas se eles beberam. Em caso de resposta positiva, ele oferece seus préstimos: “Por R$ 30 finjo que sou o dono do carro. O sr(a) pode saltar aqui, ir a pé até depois da blitz e me encontrar lá na frente que eu devolvo o carro.”

Ô povo criativo!

P.s: Não falo da Copa, como vcs já sabem, mas achei duas coisas interessantes sobre o evento. Uma charge do Aroeira e mais abaixo, um vídeo de Tom Cruise e Cameron Diaz batendo um bolão nos bastidores do último filme que rodaram juntos. Quem sabe o Dunga não contrata os dois para reforçar o seleção canarinho? (rss)

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