26 novembro, 2010

O mar no Rio não está pra peixe



Juro que não queria fazer uma crônica para falar de violência, mas não tem como: é o assunto da cidade. E não é pra menos: a perspectiva de invasão do Complexo do Alemão e suas consequências aponta para um cenário mais "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come" do que o que de 2002 e 2003, quando o Rio viveu algo parecido.

Na época, o traficante Fernandinho Beira-Mar, um dos principais líderes do Comando Vermelho, preso em Bangu 1 no ano de 2002, insatisfeito com as suas condições no presídio, ordenou aos seus asseclas que saíssem incendiando os ônibus da cidade, fechassem o comércio e metralhassem ou atacassem com bombas de fabricação militar as fachadas dos edifícios – inclusive foi um dos alvos foi a fachada da prefeitura do Rio (foto) , que levou mais de 100 tiros. A ordem era usar técnicas de guerrilha.

Em 2009, foi a vez da polícia levar um susto. Fernandinho Beira-Mar entrou novamente no circuito, desta vez para ordenar, junto com Marcinho VP, que os traficantes do Complexo do Alemão e do Jacarezinho invadissem o Morro dos Macacos para disputar os pontos de venda de drogas. Detalhe: tanto Fernandinho Beira-Mar quanto Marcinho VP estavam encarcerados  em presídios federais - o primeiro no Mato Grosso do Sul e o segundo no Paraná - e comandavam tudo a distância.


Para conter a disputa no Morro dos Macacos, 120 policiais foram destacados para o local, e durante o tiroteio, um helicóptero da PM foi abatido e explodiu, causando a morte de três tripulantes. O caso foi tão emblemático para a PM que a pré-ocupação da UPP no Morro dos Macacos – cuja inauguração está prevista para o próximo dia 30 de novembro – foi cercada de muita tensão.


Esta semana


Em uma de suas inúmeras aparições na tevê esta semana, o o Secretário de Segurança Pública do RJ, José Mariano Beltrame, falou em entrevista ao RJTV sobre o “controle remoto” exercido pelos líderes do tráfico dentro dos presídios: “Como pode um chefe do crime organizado, dentro dos domínios prisionais, comandar seus negócios como se estivesse aqui?" Boa pergunta. Como? 

Dizem as autoridades de segurança que a transferência de líderes do tráfico para os presídios federais ajuda a desbaratar a comunicação entre eles, daí a decisão de transferir Marcinho VP (apontado como mandante das ações no Rio) e Elias Maluco, entre outros, para o presídio de Rondônia. Quero acreditar que esta é uma decisão inteligente, mas a pergunta que não quer calar continua: por que os líderes do tráfico que estão nos presídios federais continuam comandando seus "exércitos" à distância?


As UPPs

Todo mundo sabe que os traficantes não iriam sumir como num passe de mágica das favelas ocupadas pelas UPPs, assim como acho que todos concordam que as Unidades Pacificadoras são o primeiro passo para que não existam novas gerações de traficantes. Os que ainda estão por aí dificilmente passarão dos 25 anos de idade, pois morrem cedo em confrontos com a polícia. O problema é que ainda temos um enoooorme contigente de soldados dispostos a entrar para o "movimento", pois cresceram conhecendo apenas o tráfico como forma de ganhar a vida.

Uma das notícias que mostra como o "movimento" foi afetado com a entrada das UPPs  é a da aliança entre as facções rivais do Complexo do Alemão (Comando Vermelho) e da Rocinha (ADA – Amigos dos Amigos). Algo inimaginável até então, e que deixa claro que vivemos um novo tempo.

Tempo em que os bandidos parecem realmente acuados. Mas ainda que se esteja, pela primeira vez, enfrentando o tráfico "à vera", ainda falta muito a se fazer para que a situação melhore, e estamos carecas de saber o que é necessário pra isso: investimentos em educação e geração de renda para toda uma população que nunca teve oportunidade - este, aliás,  um dos objetivos da UPP Social, que começa a dar os seus primeiros passos.

Como tudo na vida, no entanto, o projeto vai demorar mais tempo do que o ideal para dar os primeiros frutos. Daí que a população poderia aproveitar este momento e sair, ela também, do seu estado de imobilismo e fazer algo mais do que culpar o governo, planejar passeatas ou ficar com medo, o que, convenhamos, na prática não adianta muita coisa.

Só para lembrar, o tráfico existe porque existe quem os sustente. Aqui embaixo, no asfalto e na classe média, existe muita gente que sustenta esse pessoal todo que taca fogo em carro e que dá ordem de dentro do presídio. Só para lembrar.


P.S: 

1)  O jornal Extra está prestando um serviço de utilidade pública para os cidadãos: ele está separando o que é verdade e boato na situação do Rio, acrescentando as tags #everdade ou #eboato, para identificar as notícias confirmadas e também as desmentidas após apuração.



2) Eu não sabia, mas o Comandante da PM do Rio, que também já foi Comandante do BOPE, é bacharelando em Filosofia (!), tem um blog (http://marius-sergius.blogspot.com) é articulista de jornais e autor de livro. Ele estava respondendo às perguntas da população (ele ou seja lá quem for que o represente)  sobre a situação do Rio no perfil do Governo do Estado do RJ no Twitter  (http://twitter.com/GovRJ )


3) O trecho de um ótimo debate sobre o assunto tráfico de drogas pode ser visto no vídeo abaixo, do programa Conexões Urbanas, do Multishow, que foi ao ar recentemente.




Um comentário:

  1. A grôbo adora essa situação prq dá ibope e vende jornal principalmente para a crasse mérdia que adora passione e não tá nem aí para reevindicar nada!Só sabem falar vc viu no Fantástico? Agora o que ninguém pergunta é cadê a dinheirama das drogas? Quem administra isso tudo? Não vai acreditar que esse dinheiro todo fica escondido debaixo do colchão do gerente do tráfico lá na favela????QUEM SÃO OS VERDADEIROS DONOS DO TRÁFICO???? Fernandinho Beira-Mar não acredito esse é testa de ferro.

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