05 novembro, 2010

O buraco é mais embaixo



É...tudo indica que já não se pode mais discriminar e ficar impune neste país. Vejam o caso da Mayara Petruso, que apesar de ser estudante de Direito (logo de Direito!), tem o pensamento torto e resolveu dizer o que pensava sobre os nordestinos no Twitter. Agora ela vai responder por crime de racismo, podendo pegar uma pena de dois a cinco anos de prisão, mais multa, e incitação pública à prática de crime, neste caso, de homicídio. Para quem não ficou sabendo exatamente quais foram as palavras da moça, aí vai:


O motivo de tanto ódio - ela não foi a única, pois outros emitiram opiniões parecidas - foi o fato de Dilma ter ganho as eleições no Nordeste. A grafia incorreta da palavra nordestino só piorou ainda mais as coisas pro lado dela.

Quando eu morava em São Paulo, lembro de um certo dia em que almoçando em um restaurante, ouvi numa mesa próxima, um cara com um sotaque nordestino já quase imperceptível pela, imagino eu, longa temporada morando naquela cidade, dizendo aos amigos em alto e bom som: “Pra mim o Brasil tinha que virar dois países – de São Paulo pra cima deveria ser um país e de São Paulo para baixo, outro. E posso dizer isso porque sou nordestino, mas que o Nordeste é um atraso de vida, ah...isso é!”


Curiosa para saber até onde ele iria chegar com aquela tese, e tentando disfarçar os meus olhares que invariavelmente se lançavam em sua direção, comecei a fingir que lia um jornal enquanto dava umas garfadas no meu almoço: “E digo mais...nem o Rio de Janeiro se livra! Ô cidadezinha! Só tem violência, nada funciona. Povo sem educação! Deus me livre de morar lá!

Confesso que tive ímpetos de interromper a fanfarrice do sujeito e lhe perguntar quem, afinal de contas, ele pensava que era para se julgar melhor do que alguém. Mas não o fiz simplesmente porque ele não estava falando comigo e, sim, com seus amigos – que se concordavam com ele eram igualmente idiotas. Se tivesse se dirigido a mim, o negócio poderia ter mudado de figura.

Se fosse hoje, quem sabe, eu poderia tê-lo denunciado por racismo, ou quem sabe...autoracismo (rs), pois ele próprio era nordestino. Coisa louca, não? O cara ter tanta aversão à própria origem.

Nas minhas andanças pelo interior deste país, certa vez, trabalhando em uma campanha política, registrei na memória um outro fato. Em uma comunidade que não devia ter mais do que, sei lá...500 habitantes, o prefeito, que tentava a reeleição, era um morador local e uma pessoa bem simples, e durante o seu mandato, entre outras coisas,  fez uma ponte que era pedida pela população há séculos. Entretanto, naquelas eleições o preferido para ocupar o cargo era um médico do Banco do Brasil.

Quando perguntei à líder local o porquê dos moradores preferirem alguém que nem lá tinha nascido, ela me respondeu: “Ah, fia, cê acha que nóis vai votar de novo num cara que num sabe nem falar?” Assim como ela, o prefeito tinha dificuldades com a língua-mãe e, embora não conseguisse conjugar bem os verbos e comer direto os “s” dos plurais, tinha sido ele a pessoa que atendera às demandas da população ao longo de quatro anos. Mas por não falar direito, sua imagem mostrava a sua origem de pessoa simples, do povo. Logo, o povo não se identificava com ele. Isso já tem uns vinte anos e quero acreditar que as coisas tenham mudado de lá pra cá. 

Voltando ao caso da Mayara Petruso, não posso deixar de registrar aqui que, apesar de achar a garota uma sem noção total e, obviamente, uma pessoa com uma opinião desprezível, houve também muito sensacionalismo em torno desta história. Li a seguinte frase de um usuário do Twitter cujo prognóstico é bem capaz de acontecer: “Não sei qual é a próxima Playboy, mas aposto que na seguinte vem a Mayara Petruso, numa banheira com um nordestino.”

Antes que alguém interprete mal a minha opinião, achando que eu estou diminuindo a importância do episódio, devo dizer que a minha mãe e todo o ramo da família dela é nordestina. Por isso, me considero, em boa parte – e com muito orgulho – nordestina.

Para encerrar, como serviço de utilidade pública, indico aqui um site para quem tiver conhecimento de algum caso de racismo, xenofobia, homofobia, pornografia infantil, etc, e queira denunciar: http://www.safernet.org.br/site/denunciar.




2 comentários:

  1. Viajando no meu face...hahah...é isso aí o racismo e o preconceito estão de vento em pôpa em todo o mundo e seria muito bom se ela fosse presa para servir de exemplo...aqui um dia um brasileiro afrodescendente professor de capoeira me dizia que tinha ido a uma festa que só tinha africano feio!! Eu de pronto lhe disse :então vc é feio? Ele respondeu que não pq ele era brasileiro!!!! Vá se entender...

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  2. Também, gostaria de ver punição aos BRASILEIROS que não perdem nenhuma oportunidade de dizer:

    BRASILEIRO é um povo burro...
    BRASILEIRO é um povo mal educado...
    BRASILEIRO merece o governo que tem...


    Putz! que raiva que dá!

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